Ouvimos dizer que estamos em grandes mudanças que vão deixar muitos para trás, e cujo ritmo da alteração a maioria não vai aguentar, não vai resistir.
Mudanças do ciclo económico, mudanças de geração, mudanças de regras nacionais, mudanças de quadro comunitário, mudanças de ciclos políticos, mudanças climáticas … tudo está em mudança e mudança muito rápida.
É esse o mote: mudança …mudar qualquer coisa. Mas será que nos estão a mudar a cabeça, ou estão mesmo a mudar as coisas, os fundamentos?
Penso que os fundamentos não mudam, assim vejo a nossa agricultura, são as mesmas lutas que os nossos pais tiveram, sempre ouvi isto. Então o que é que temos de novo? O ritmo. O ritmo da mudança é que está a acelerar. O que mudava numa geração muda agora numa década e o que mudava numa década muda agora num ano ou dois. Até quando é que vamos acelerar os ciclos de mudança?
Como vamos acompanhar esta fase de aceleração? Com a digitalização dos processos de decisão. É através desta capacidade de medir os factores que nos rodeiam, de relacionar os dados que influenciam as nossas produções, a forma de optimizar os factores de produção e a redução dos vários impactos da nossa actividade. Só assim penso que temos alguma hipótese de nos tornar resilientes a esta aceleração.
Através de novas formas de apoio à decisão, modelos que nos ajudam a adaptar as necessidades das culturas (e dos consumidores) ao potencial dos nossos solos e às alterações bruscas do clima, vamos desenvolver uma agricultura mais inteligente que se torna mais amiga do ambiente e da “carteira”.
Também ao nível do mercado só caminhando para uma agricultura a pedido “on demand”, encurtando as cadeias, diminuindo a pegada ambiental, aumentando a rastreabilidade, podemos ultrapassar as nossas fragilidades fundiárias e edafoclimáticas.
Tudo isto terá de ter um resultado económico que permeia os mais sustentáveis. O mercado irá reconhecer, no futuro, os modelos que sejam mais responsáveis e tenham, associada à produção de alimentos e fibras, uma produção de serviços do ecossistema – só assim a sociedade vai aceitar continuar a apoiar política e economicamente o nosso sector.
Se não fizermos este caminho outros viram fazê-lo em nosso lugar.
Artigo publicado originalmente na newsletter da AgroGlobal (AgroGlobal News – Setembro 2019)